A 8ª edição do Congresso TV 2.0 teve como tema a disputa no mercado de televisão por diferentes players na distribuição de conteúdo para múltiplas plataformas. O evento aconteceu no dia 4 de abril, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo.
O TV 2.0 abordou as principais questões relativas ao crescimento dos serviços de video on demand (VOD) e over-the-top (OTT). Nos serviços de VOD, o usuário paga para ter acesso a um programa ou acervo. O pagamento pode ser mensal ou pontual, e o conteúdo fica disponível para o usuário assistir a qualquer hora pelo período acordado. Os serviços OTT fornecem conteúdo sem que o provedor de internet (Internet Service Provider ou ISP) esteja envolvido no controle ou em sua distribuição. A entrega dos serviços OTT não está atrelada a um aparelho ou dispositivo eletrônico específico do operador do serviço, sendo apenas necessário o acesso a um portal web ou aplicativo.
Renato Pasquini, da consultoria Frost & Sullivan, aponta que estes novos serviços ainda estão em fase inicial na América Latina. Alguns casos de sucesso foram apresentados, como a plataforma de VOD da Net – o Now – que demonstra crescimento de mais de 100% no consumo de conteúdo on demand entre 2011 e 2012. Outro destaque apontado foi a GVT, que atingiu a marca mensal de 45 milhões de vídeos assistidos por streaming.
A Sony também apresentou seu serviço de VOD, o Crackle, que é uma plataforma gratuita e rentabilizada através de publicidade. De acordo com Jose Rivera-Font, VP e General Manager do Crackle na América Latina, o atrativo do serviço é a possibilidade de o usuário assistir filmes de Hollywood gratuitamente. A Sony estima que 25% de todo o tráfego da Internet envolve conteúdo roubado e, atraindo esta audiência para uma plataforma grátis e segura, há grandes benefícios para o usuário e para a indústria como um todo.
Uma das questões mais discutidas durante o TV 2.0 foi o surgimento de um novo perfil de consumidor, que é mais fiel ao conteúdo do que à plataforma, e que precisa de opções para consumir este conteúdo. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos para o Terra TV mostra que 64% dos internautas brasileiros veem TV ao mesmo tempo em que estão na web e, deste total, apenas 7% tem foco no televisor. Marcelo Coutinho, diretor do Terra de Inteligência de Mercado para a América Latina, diz que “será decisivo para as empresas de mídia fazer seus conteúdos transitarem entre as telas”.
Marcelo Coutinho acredita que o conceito de grade horária, que organiza a programação da TV tradicional, está ultrapassado. Para ele, o público atual está fora da grade horária. Flávio Ferrari, da empresa Qual Canal, afirma que “o conceito de grade é ultrapassado, mas é o que permite a inclusão de ser ouvido na rede (internet), de ter todas as pessoas assistindo a um mesmo programa e falando sobre ele.” A importante conclusão a que se chegou foi de que o consumo de web e televisão acontece simultaneamente, e não existe canibalização entre os meios, como a indústria já considerou no passado.
Algumas produções recentes de vídeos para a internet estão conquistando espaço neste novo mercado, como é o caso dos vídeos infantis da Galinha Pintadinha e dos vídeos humorísticos da produção Porta dos Fundos. Juliano Prado, produtor da Galinha Pintadinha, apresentou alguns resultados no Congresso. A produção já vendeu mais de 1 milhão de DVDs, tem mais de 400 produtos licenciados e já recebeu propostas para produzir para a TV aberta. O Porta dos Fundos, representado pelo produtor Ian SBF, foi criado no YouTube em razão da liberdade oferecida pela internet. “Sempre que a gente vai fazer um vídeo, a gente não tem nenhuma trava. Só queremos saber se vai ser engraçado”, afirmou Ian SBF. Tanto Juliano Prado quanto Ian SBF acreditam que há espaço para a produção de conteúdo de qualidade para a Internet, desde que conecte com o público. A TV não é o único espaço possível.
Investindo na criação de conteúdo de qualidade para a Internet, o diretor de conteúdo do YouTube para a América Latina, Alvaro Paes de Barros, falou a respeito das mudanças que ocorreram no YouTube, que deu importância à criação de canais e ao incentivo à indústria de produção de vídeos de qualidade na internet.
O desafio deste novo cenário do mercado de TV é conseguir a atenção do público, já que existem novos players que concorrem entre si. Com o aumento de informações disponíveis, é cada vez mais difícil obter atenção. Antonio Barreto, CEO da DLA, considera que “é um desafio trazer conteúdo inteligente, pois a televisão está cada vez mais ‘individual’ mas vista por inúmeros públicos e cada um tem um conceito do que ela é e, por fim, isso nos mostra como devemos pensar no conteúdo para o presente e futuro”. Barreto falou sobre a experiência do NEON, novo serviço online de VOD via streaming da DLA. Carolina Montagna, da Globosat, expôs sobre o Philos TV, serviço de VOD da Globosat com conteúdo de documentários sobre arte, ciência, história, atualidades, de performances e espetáculos musicais. Segundo Carolina, o Philos TV foi criado porque a Globosat identificou, dentre os assinantes de TV por assinatura, um grupo denominado “críticos”, que tinha pré-disposição para pagar por um pacote completo de TV e não estava sendo atendido pelo conteúdo linear. A atenção do público será obtida, ao que parece, através da relevância de conteúdo, já que existem muitas ofertas e apelos a este novo consumidor, exigente e conectado.
Luísa Brandt
Consultora